quarta-feira, 24 abr 2024|0 comentários
(Re)Nasci
Nasci do ventre da esperança.
Na vertente da agonia
Do desespero
da dança que os corpos em romaria
Almejavam ter
um dia
Nasci na margem da vida
Na corrente destemida
Ao sabor do vento norte
E aprendi a dizer não
No meio da agressão
E sorria para a sorte
Nasci numa gruta aberta
Em garganta escancarada
Junto ao mar
Desamparada de gritar
A descoberta
Do rubro brado de medo
Sempre mantido em segredo
Nasci de velha ambição
Filho de um povo amputado
Na palavra
Na razão
E de um verso inacabado
De um poema quase ausente
Ansiado
Bem urgente
Nasci p’ra dizer presente
Nasci para dizer Basta!
De gozo
De sofrimento
Para trazer o alimento
Ansiado na borrasca
e então
oh gente sem jeito
retirar ou vai ou racha
abril de dentro do peito.
Nasci de uma luta antiga
Na miséria que amargava
No pé descalço
Na briga
Na viagem de ternura
Atrás de grande aventura
E quando já era saudade
Eu renasci... Liberdade
António Castel-Branco
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