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de A TEMPESTADE a OS FRAGMENTOS
(1940-1974)
«Nele, mais do que em qualquer outro romancista de língua portuguesa de nosso tempo, há um gosto do mundo. E a presença intemporal do homem aparece, dura, sob a densa camada de temporalidade que o ficcionista constrói. O que o torna um mestre de invenção e de feitura. É dono de uma execução ficcional tão perfeita adequada às realidades que nos faz encontrar, na sua ficção, a verdade do tempo.»
António Olinto.
«(...) como penso que a minha profissão é compreender, coloco-me no lugar da pessoa que devia desiludir-me. Evoco a sua mentalidade, o seu temperamento se o conheço pessoalmente, as limitações ou as deformações que o meio social ou a sua própria psicologia lhe criam, as suas derrotas ou as suas vitórias, pois tanto umas como outras podem deteriorar certos espíritos; e, soma feita, admito que talvez eu procedesse da mesma maneira se fosse igual e me encontrasse nas mesmas circunstâncias da pessoa em questão.»
Ferreira de Castro, entrevista a José de Freitas, Diário Popular, de 7 de Abril de 1966.
Escreveu um romance que - injustamente - considerou quase inócuo, desvalorizando-o quer no «Pórtico», quer numa entrevista ao Diário de Lisboa, em 1945, que teve grande repercussão nos meios literários e políticos da época. Trata-se de A Tempestade, drama urbano em torno do adultério e do preconceito. Na citada entrevista Ferreira de Castro referiu-se ao seu livro nestes termos:
«É uma dessas obras que se fazem quase com raiva para a própria obra, por não ser aquela que desejamos fazer. "A Tempestade" dá bem a ideia da influência que a falta de liberdade de expressão exerce na literatura. Quem ler os meus outros romances mal me reconhecerá neste. Tudo quanto constitui a minha personalidade está, ali, forçado, ou melhor, desfigurado.»
Entrevista ao Diário de Lisboa, de 17 de Novembro de 1945.
Em 1974 publica a A Lã e a Neve, cuja acção se situa na Serra da Estrela, entre a comunidade pastoril, e nos meios do proletariado têxtil da Covilhã. Considerado um percursor do neo-realismo, alguns críticos integram este romance naquele movimento estético.
Com A Curva da Estrada (1950) e A Missão (1954) - cuja novela que dá título ao volume é para muitos a sua obra-prima - , Ferreira de Castro volta à escrita de contornos eminentemente psicologísticos, sem que as preocupações patentes nos livros anteriores fossem arredadas.
A Arte exerceu um grande fascínio no escritor, e todas as suas obras foram ilustradas por artistas de primeira água. Assim, à caminhada do ser humano, nas suas preocupações estéticas, mentais e vitais consagrou as páginas As maravilhas Artísticas do Mundo ou a Prodigiosa Aventura do Homem através da Arte, obra publicada entre 1959 e 1963.
Entre 1962 e 1964 presidiu à Sociedade Portuguesa de Escritores, por cuja criação pugnara. .
O seu último romance, O Instinto Supremo, sobre a acção do General Rondon, o pacificador dos Parintintins, cujo lema era «Morrer, se necessário, matar, nunca!», foi editado em 1968, simultaneamente em Portugal e no Brasil. O escritor regressa ao cenário amazónico de que se afastara desde A Selva.
Falecido em 29 de Junho de 1974, na sequência de um acidente cardio-vascular, não assistiu já, 38 anos depois, à edição de O Intervalo, projecto inacabado, incluído em Os Fragmentos, volume que deixou preparado para a publicação.
Amando Sintra, onde escreveu parte da sua obra, fez em 1970 o seu único pedido às entidades oficiais:
«Desejaria ficar sepultado à beira duma dessas poéticas veredas que dão acesso ao Castelo dos Mouros, sob as árvores românticas que ali residem e tantas vezes contemplei com esta ideia no meu espírito. Fica perto dos homens, meus irmãos, e mais próximo da Lua e das estrelas, minhas amigas, tendo em frente a terra verde e o mar a perder de vista - o mar e a terra que tanto amei».
Ferreira de Castro, Cascais, 1972.
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